sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Fumar e tomar pílula é mistura perigosa


As duas coisas são fatores de risco para doenças que podem matar
Thais Sabino, especial para o iG Jovem


Se você gosta de sair com os amigos e fumar um cigarro para acompanhá-los, mas também toma todo dia aquele pequeno comprimido que evita uma gravidez indesejada, é melhor ficar atenta. A combinação do anticoncepcional e do tabaco não só não é saudável, como pode trazer diversas complicações.
A trombose, doença que deixa uma das pernas inchada e dormente, é um exemplo do que pode acontecer, mas pode ser tratada se descoberta em tempo. A pior consequência, segundo o ginecologista da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), César Eduardo Fernandes, é quando “a coagulação afeta os pulmões e se torna um tromboembolismo pulmonar” – neste caso, o paciente pode até morrer.
O problema de fumar e tomar pílula é que o anticoncepcional já aumenta o risco de coagulação do sangue nos vasos sanguíneos. Quando misturado com o tabaco, que tem a mesma ação, a possibilidade de surgir a doença é duplicada. Como o ginecologista explica, “se de um fator (de risco) aumentou para dois, então, é 100% de aumento do risco”.
E se você pensou em parar de tomar anticoncepcional e continuar com o cigarro (que, com ou sem pílula, faz um mal enorme para a saúde), lembre-se que uma gravidez indesejada na adolescência é mais difícil de lidar do que passar um pouco de vontade. Na convicção do ginecologista, “quando uma menina tem um filho, ela interrompe o curso natural da adolescência e da vida, e isso não tem volta”.
Isso é ainda mais preocupante nesses tempos em que as garotas perdem a virgindade cada vez mais cedo. Se o contraceptivo é cortado, as chances de se tornar mais uma mãe adolescente disparam. Segundo Fernandes, as jovens menstruam entre 12 e 15 anos e poucos anos depois iniciam a vida sexual. O resultado é o uso da pílula por meninas cada vez mais jovens.
A estudante de fotografia Bianca Zeglio Luchesi, por exemplo, começou a tomar anticoncepcional aos 14 anos. “Eu namorava, comecei a transar sem camisinha e achei que essa seria a melhor escolha para não correr o risco de engravidar”, conta a jovem, atualmente, com 20 anos. Naquela época, ela também começou a fumar.

A idade em que as meninas acendem o primeiro cigarro costuma acompanhar o período da primeira transa. Um estudo realizado em 2010 pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) concluiu que 18.6% das meninas entre 10 e 19 anos já haviam fumado alguma vez na vida. Elas ganharam dos meninos, já que 17,1% deles tinham experimentado a droga. A maior incidência ocorre dos 16 aos 18 anos. A pesquisa foi feita com estudantes de escolas públicas e particulares, com idades entre 10 e 19 anos. Do total, 10% dos entrevistados fumaram em 2010.
A história de Bianca não é diferente. Ela fuma desde os 14 anos e não pretende parar. “Na primeira vez foi horrível, eu não sabia tragar, mas consegui chamar a atenção”, revela. Quando completou 16 anos, ela foi a um ginecologista que explicou sobre os riscos da combinação do anticoncepcional e tabaco. “Não pararia de fumar agora, eu gosto e virou um vício”, disse a jovem, que pretende dar adeus ao cigarro apenas quando engravidar.
Apesar do número alto de jovens fumantes, a pesquisadora do Cebrid, Zila Van der Meer Sanchez, afirma que o uso do cigarro está diminuindo. “No passado, o cigarro estava associado ao sucesso e dinheiro nas propagandas. Há alguns anos, ficou provado que o tabaco causava câncer e tinha substâncias tóxicas, então, aconteceu o estímulo social inverso”, explica Zila. De acordo com os dados do Cebrid, em 1997, 34% dos jovens entre 10 e 19 anos já haviam experimentado cigarro. Em 2004, a quantidade caiu para 25% e, em 2010, para 18%.
Uma dica para quem deseja parar de fumar é deixar de consumir bebidas alcoólicas. “Pequenas doses de álcool estimulam a vontade, em quem já fuma, de acender o cigarro”, alerta a pesquisadora.