sábado, 6 de novembro de 2010

MULHERES NO PODER

Mulheres no poder: elas são de briga

De Maria Felipa a Dilma, a luta da mulher brasileira pela pátria livre



Foto: Reprodução
Amélia Rodrigues: a feminista pioneira
Paulo Leandro | Redação CORREIO
paulo.leandro@redebahia.com.br

Tudo começou com uma escrava da Ilha de Itaparica, no Recôncavo: Maria Felipa. Ignorada nos livros de história escritos pelos homens,  foi esta mulher que liderou os baianos em lutas decisivas pela independência do Brasil.

A história iniciada na briga de Maria Felipa, em 1823, tem novo capítulo com a eleição de Dilma, primeira mulher presidente do Brasil. Felipa não tomou posse de nada, mas mostrou do que a brasileira é capaz, botando pra correr os gajos de Lisboa: pátria livre!

Uma rara oportunidade de conhecer a trajetória das mulheres na política, está no livro As Donas no Poder, publicado pela doutora em Sociologia Política, Ana Alice Alcantara, pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Mulher (Neim) da Universidade Federal da Bahia (Ufba): 30 anos depois de Maria Felipa, em 1852, elas criaram o Jornal das Senhoras, divulgador das primeiras bandeiras.


Alzira Soriano, Lages, Rio Grande do Norte: 1ª prefeita da América do Sul
AUTONOMIA Em 1891, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) admitiu o registro de Myrtes de Campos. Somente em 1922, foi fundada a Federação Brasileira para o Progresso Feminino, grupo feminista que inspirou Amélia Rodrigues, hoje nome de cidade, a organizar as mulheres na Bahia. Em 1932, a vitória: o Código Eleitoral garantiu o direito de votar e ser votada.

A primeira prefeita eleita na América do Sul foi Alzira Soriano, em Lages, Rio Grande do Norte. Dois anos depois, em 1934, a paulista Carlota Pereira de Queiróz foi a primeira mulher eleita deputada federal no país.

No ano seguinte, chegou a vez da primeira deputada estadual baiana: Maria Luíza Bittencourt, nascida em Paripe, subúrbio de Salvador, tomou posse na Assembleia Legislativa de 1935, sob olhares desconfiados dos colegas.
A professora Ana Alice avalia a eleição de Dilma como um avanço da mulher na política, mas não vê tantos motivos assim para entusiasmo.

Para ela, não há ainda uma mudança tão significativa na relação entre homens e mulheres na política nacional. “A conjuntura foi favorável a sua indicação pelo PT”, disse.

O voto das mulheres em Dilma pode revelar, no entanto, uma identificação. “Dilma é uma mulher forte, profissional, bem preparada”, disse. “Ela puxa a identificação com a nova mulher que se estabelece no  mercado de trabalho e busca autonomia”.

LONGE
Segundo a pesquisadora, as mulheres organizadas em suas diversas associações da sociedade civil esperam que Dilma fortaleça o Plano Nacional de Política para Igualdade e garanta o acesso à saúde e às creches, conquistado na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), sancionada por Getúlio Vargas, em 1943. “Empresas com mais de 15 mulheres trabalhadoras têm de garantir creche, mas não é o que ocorre e nem as instituições do governo federal cumprem a lei”, afirma Ana Alice.

Aos seus alunos da disciplina Gênero e Poder, Ana Alice costuma dizer que a luta política da mulher tem sua lógica peculiar. Até uma ideologia conservadora pode contribuir, como foi o caso de Esther Ferraz, ministra da Educação entre 1982 e 1985, no governo Figueiredo, fim da ditadura.

Outra evidência que a luta da mulher não segue a lógica dos partidos vem do atual PT. O mesmo partido que elegeu Dilma teve só duas candidatas a deputada federal na Bahia.


Ana Alice: agora, a luta pelo Plano Nacional de Política para Igualdade

A lei de cotas, que prevê mínimo de 30% de candidatas mulheres no país, não é cumprida, pois apenas 23% participaram do pleito deste ano. O Brasil tem sua primeira mulher presidente, é certo, mas esta história de guerreiras em nossa pátria livre está longe de chegar ao final feliz.